Eis o retrato de mais uma das antigas famílias da Moçâmedes de então, a familia ANTUNES DA CUNHA. Em cima, da esq. para a dt.: Basílio José da Cunha, José Antunes da Cunha e Albino Antunes da Cunha. Embaixo: Nelson Emílio da Conceição Antunes da Cunha, Amélia Matias da Cunha, Maria José Antunes da Cunha, Maria de Lurdes Antunes da Cunha, Eugénio Faustino da Cunha e Joaquim Albino Antunes da Cunha.
Na foto, a loja da família Antunes da Cunha, em Porto Alexandre, no ano de 1930. Na 1ª porta do lado esq. Albino Antunes da Cunha e o irmão José. Fotos do livro Recordar Angola, de Paulo Salvador.
O mesmo livro refere que esta família após ter emigrado para Angola, ter-se-ia radicado em Porto Alexandre (actual Tombwa). Albino da Cunha, natural de Laceiras (Vizeu), nascido no ano de 1906, foi o primeiro que resolveu partir, tendo fundado a casa comercial Antunes da Cunha em 1918.
O mesmo livro refere que esta família após ter emigrado para Angola, ter-se-ia radicado em Porto Alexandre (actual Tombwa). Albino da Cunha, natural de Laceiras (Vizeu), nascido no ano de 1906, foi o primeiro que resolveu partir, tendo fundado a casa comercial Antunes da Cunha em 1918.
Em 1919 casa com Eugénia do Ó Faustino, filha de Porto Alexandre e descendente de colonos vindos de Olhão (Algarve), para iniciar ali uma nova vida.
Em 1921 chega a Porto Alexandre um seu irmão, José Antunes da Cunha, também originário da Beira Alta, que já havia estado em terras de Angola como deportado político por oposição a Sidónio Pais, e por atitudes contestatárias durante o serviço militar. Então, já casado, associa-se a Albino da Cunha e criam a unidade fabril «Antunes da Cunha, Lda.», dedicada a farinhas, conservas e óleos de peixe. Em 1924 abrem uma casa comercial em Moçâmedes.
Tal como outros comerciantes e elementos representativos das "forças vivas" da cidade de Moçâmedes, os Antunes da Cunha estiveram presentes em recepções, cerimónias de inauguração oficias, sessões de boas vindas a entidades governamentais, etc. etc. Em 1938, quando da visita a Moçâmedes do Presidente da República portuguesa, Óscar de Fragoso Carmona, José Antunes da Cunha tomou a palavra na qualidade de presidente da Associação Comercial. Nas entrelinhas do seu "mui respeitoso discurso", podemos concluir o desapontamento manifestado face à incompreensão de que estavam sendo as gentes produtivas da terra, por parte da Metrópole (1):
«...Em Africa,
os homens exclusivamente se afirmam pelo seu trabalho e pelo sacrifício, pela
tenacidade e o desassombro»...;
«...Os colonos aqui fazem-se e formam-se por si
mesmos, sob a influência do nobre desejo de vencer, estimulado pela energia
tenaz, e pela ambição de viver e progredir»
«Somos assim por cá, Sr.
Presidente da República, e no entanto eu sinto hoje, eu sinto neste momento,
com alguma aflição, e com bastante pena, que, em frente de Vossa Excelência,
Chefe do meu país, primeiro Magistrado da Nação, símbolo da unidade moral e
política da minha Pátria, é afinal bem tímido o meu espírito»
«As preces da
minha alma não conseguem provocar o generoso milagre que eu queria e que eu
desejava para neste momento me sentir elevado à altura das circunstâncias, ao
nível da minha ambição....»
Recorde-se que em 1938 estava-se na primeira fase do Estado Novo, Salazar tomara as rédias da nação na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que pôs fim à 1ª República e deu lugar à instauração do Estado Novo. O novo regime que se estabeleceu levou ao fim, em Angola, a política hábil desenvolvida por Norton de Matos, à qual haviam aderido elevado número de "colonos" das principais cidades, que visavam para colónias uma autonomia progressiva de modo a conduzi-las mais tarde à independência, continuando ligadas a Portugal por laços sentimentais e por interesses recíprocos. Norton Matos em relatório datado de 1924 referia "tremendos perigos que rodeavam Angola sendo o único meio a colonização intensiva e o fomento económico".
Ora, a actuação de Norton de Matos, desagradou ao Estado Novo, temeroso face ao descontentamento dos colonos que na verdade não era mais que um descontentamento difuso, um desejo de afirmação e de autonomia face à Metrópole, não se tratava de um verdadeiro separatismo branco, que na verdade seria algo inviável numa época dada a escassez de população branca, sobre o futuro do Império. Em consequência, chega ao fim a figura do Alto Comissário que é substituída pela de Governadores Gerais. As colónias perdem autonomia administrativa e financeira e teve lugar a centralização. Os colonos deixam de poder contrair empréstimos ao estrangeiros, e
desenvolveu-se uma política de mistificação, defesa e fomento do Império,
como parte da ideologia nacional.
Nunca mais José regressou ao Namibe. Albino da Cunha, sim, ali se radicou definitivamente, e ali faleceu em 1973, dois anos antes da independência de Angola. Foi um dos
grandes empreendedores, a nível do comércio e indústria de Moçâmedes.
Extremamente trabalhador, homem sério e bom, deu à cidade uma prole de
filhos que na Metrópole acabariam por se licenciar, e que não apenas lhe
herdaram os genes positivos, como lhe seguiram o rastro e até
ultrapassaram.
Foto dedida por Antunes da Cinha a Lay Silva
Esta bela foto (clicar sobre ela para aumentar), do tempo em que o transporte ainda se fazia em carroças puxadas a bois, mostra-nos um grupo de crianças e adolescentes elegantemente vestidas, preparando-se para serem conduzidas a um determinado cerimonial. À janela dois duas senhoras a conversar com outras duas, no lado de fora, dois cavalheiros aperaltados, e dois africanos encarregados de orientar a condução da referida carroça.
Jazigo dos Antunes da Cunha em Moçâmedes
No Cemitério de Moçâmedes como em todos os Cemitérios do mundo as famílias melhor posicionadas na sociedade procuravam homenagear seus mortos, mandando constuir artísticos mauseoléus ou jazidos, que hoje ainda perduram no Cemitério da cidade, a lembrar um outro tempo que passou e não volta mais.
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