
Perspectiva da Fábrica Africana, em tempos recuados. Repare-se, em cima, à esq., a Avenida Felner na parte já a entrar pela Torre do Tombo, as poucas casas que nesta altura alí existiam .
"...Fundou-se a fábrica
de conservas Africana, cuja iniciativa se deve a Miguel Duarte de Almeida, iniciativa que tomou corpo com o apoio do grande colono Serafim Simões Freire de Figueiredo, sogro do primeiro, que meteu mãos à obra, fundando a fábrica.»
Miguel Duarte de Almeida era casado com Amélia Figueiredo Duarte de Almeida.

Outra perspectiva da mesma Fábrica que nos permite ver os carris de ferro por onde passavam as vagonetas que transitavam da ponte para o seu interior, entrando em linha recta para o local onde era descarregado o pescado para ser escalado e cozido em grandes caldeirões. Em seguida vinha a fase do enlatamento. No seu início esta Fábrica recrutou de Olhão pessoal feminino para trabalhar no sector de enlatamento das conservas, sector que mais tarde passou a ser ocupado por pessoal africano como podemos ver mais adiante.

Srs. de chapéu e gravata à porta da entrada da Fábrica (proprietários e empregados?) Visita do Ministro das Colónias, Dr Armindo Monteiro a esta fábrica, em 1932?

Aqui também se secava peixe em giraus ou tarimbas

A escalagem era uma das primeiras operações...

A seguir vinha a fase da cozedura...

A seguir vinha a fase da cozedura...

As caldeiras para cozedura e o peixe já cozido a aguardar a fase seguinte da laboração
O peixe já cozido a aguardar a fase seguinte da laboração

O peixe já cozido a aguardar a fase seguinte da laboração

O enlatamento e as enlatadeiras

O encaixotamento


Trata-se da primeira fábrica de conservas iniciada em Moçâmedes no ano de 1915 , a Fábrica Africana de Figueiredo * e Almeida, Lda.
Do portal Memória Africa , Boletim Geral das Colónias . Número
especial dedicado à visita do Ministro das Colónias, Dr Armindo Monteiro, em 1932, já com Salazar no poder, a S. Tomé e
Príncipe e a Angola, tendo na sua passagem por Moçâmedes visitado esta Fábrica.
BGC N.88 - vol VIII. 1932, pg 407. Agência Geral das Colónias
Através da leitura do mesmo Boletim das Colónias, na parte que interessa, ficámos a saber que esta fábrica, em 1932, se denominava "Fábrica Africana" e que o sector de legumes e conservas de frutos se encontrava ainda em fase de apetrechamento, estando empenhado neste projecto o Dr. Torres Garcia, administrador da "Companhia de Mossâmedes". O Ministro das Colónias visitou também a Empresa Fabril de Conservas de Peixe, propriedade de Manuel Costa Santos, situada um pouco mais a sul.
Há notícia de que poente da Fábrica Africana ficava, em tempos recuados, uma fábrica ligada à indústria piscatória, pertencente a Costa & Pestana. Esta acabaria na falência devido a toda uma situação gerada à volta do produto que chegou ao destino em péssimas condições e não foi pago pelos compradores.
Ainda sobre esta Fábrica, sabe-se que, instalada em edifício propositadamente construido para esse fim, esta fábrica encontrava-se na altura dividida em dois corpos, um dos quais comunicava directamente com a praia, e foi destinado de início a enlatados dos legumes cultivados nos vales dos rios “Bero” e “Giraul” ( ou seja, provenientes das muito badaladas “Hortas de Moçâmedes”), e também a enlatados de carne de vaca e de porco, e de peixe em salmouras e escabeche, ou mesmo algumas semi-conservas de charcutaria, conforme consta do apontamento histórico «Pescas em Portugal-Ultramar», de António Martins Mendes (Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa), citando a obra do Dr. Carlos Carneiro, então Director dos Serviços Veterinários de Moçâmedes. No livro Memórias de Angra do Negro- Moçâmedes, de António A. M. Cristão encontrei o nome do 1º colono que e instalou numa fazenda na margem dt. do rio Bero, de nome Serafim Nunes de Figueiredo, accionista da Companhia de Moçâmedes, proprietária da fazenda. Não sei se tem alguma relação com o 1º proprietário da Fábrica Africana, de apelido Figueiredo. Também há ref. à " Figueiredo & Almeida Limitada" que possuia em Mossâmedes, em tempos mais recuados, uma casa filial que negociava peixe com algarvios em troca géneros europeus:AQUI
Como se pode ver pela duas fotos acima, no topo da fachada de cada unidade que integra o edifício , por cima das janelas da Fábrica, encontrava-se escrito os produtos enlatados que ali se produziam: conservas de carnes salgadas, conservas em azeite (de atum, sarrajão, cavala, merma), conservas de fruta, conservas de escabeche, peixe fumado, etc. Também se podia ver o símbolo da Fábrica: uma águia.
Há indicações que na década de 20 e 30 se exportava para o mercado italiano e para os Congos-Belga e Francês e o Gabão produtos de alta qualidade que competiam com os de outras origens por serem mais baratos, situação que levou ao surgimento de novas conserveiras.
Para uma informação mais pormenorizada, transcrevemos a seguir uma passagem de um interessante apontamento histórico de Antonio Martins Mendes da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, subordinada ao tema «Pescas em Portugal - Ultramar», onde o autor nos relata algumas passagens de um importante relatório do Dr. Carlos Carneiro, então Director dos Serviços Veterinários de Moçâmedes, que aborda o estado da Industria de Conservas: **
«... Estava-se em 1931, quando foi publicado o seu primeiro relatório de serviço (Carneiro, 1931). Nesse trabalho começa por evocar o ano de 1921, ...
«...No seu importante trabalho o Dr. Carlos Carneiro aborda o estado da Industria de Conservas. Ficamos a saber que a construção da primeira fabrica fora iniciada em Moçâmedes no ano de 1915 e estava destinada aos legumes cultivados nos vales dos rios “Bero” e “Giraul” (as célebres “Hortas de Moçâmedes”), carne de vaca ou de porco e de peixe em salmouras e escabeche ou mesmo algumas semi-conservas de charcutaria. Preparavam também óleos de pescado que, depois de várias análises e melhoramento da técnica de fabrico, tinham colocação fácil nos mercados britânicos. A fábrica obedecia às exigências da época mas a I Grande-Guerra iria causar grandes dificuldades. A chaparia para o fabrico das embalagens, que era importada e litografada em Lisboa, faltou e a fábrica foi obrigada a fechar. A indústria viria a reanimar-se a partir de 1923, preparando conservas de atum, sarrajão, cavala, mermo, principalmente destinadas ao mercado italiano que tudo absorvia, mas exportava-se também para os Congos- Belga e Francês e o Gabão. Os produtos exportados eram de alta qualidade e rivalizavam com os de outras origens por serem mais baratos. Por isso fundaram-se outras conserveiras. » (...) «...Como sub-produtos do pescado fabricava-se: óleo e farinha de peixe, mas utilizando métodos absolutamente primitivos ou arcaicos.
Encontram-se também referências desta fábrica como sendo propriedade da "Companhia do Sul de Angola", tendo Josino da Costa como arrendatário, e sendo. Olimpio Aquino o gerente. Nos anos 1950 esta fábrica era designada "Sociedade Oceânica do Sul" (SOS) e com esta denominação permaneceu até à independência de Angola. Encontra-se uma referência no livro de Paulo Salvador "Era uma vez...Angola "a um indivíduo de nome Santana como tendo sido proprietário da referida Fábrica (?).
A Fábrica possuia uma frota pesqueira que tratava das capturas para a laboração, quer para o sector conserveiro, quer para o sector de salga e seca, e farinação. Para a produção das conservas de peixe iam especiamente os tunídeos: atum, albacora, sarrajão, etc. Para a salga e seca iam essenciamente os peixes de escama, tais como corvina, taco-taco, tico-tico, merma, cachucho, carapau, etc. Para farinação iam as tainhas, sardinha, cavala, carapau, etc. As tainhas pelo seu alto teor de gordura possibilitavam umalto rendimento na produção de óleo de peixe.
O peixe era transportado para o interior da fábrica através de «vagonetas» sobre linha férrea, que ali faziam a sua entrada, em linha recta, onde era descarregado para ser escalado e cozido em grandes caldeirões. Em seguida vinha a fase do enlatamento. Há notícia de que na década de 1940 ainda nesta Fábrica trabalhavam senhoras recrutadas a partir de Olhão para trabalhar no sector de enlatamento das conservas, sector que mais tarde passou a ser ocupado por pessoal africano feminino como aqui podemos ver (enlatadeiras).
Sabemos que na década de 1960, e após um período aureo de grande produção como Sociedade Oceânica do Sul (SOS), esta fábrica deixou pura e simplesmente de produzir e, vendida a Produtos de Angola Lda (PRODUANG) cujos sócios eram Gaspar Gonçalo Madeira e seu filho, Ildeberto Serra Madeira, acabou por se transformar num entreposto para exportação de peixe congelado para Moçambique. Esta situação mantinha-se em 1975,
quando da independência de Angola.
Gaspar Gonçalo Madeira regressou a Portugal, mas seu filho, Ildeberto
Serra Madeira mantém-se em Moçâmedes ainda hoje. Temos notícia que se
encontra desmobilizada.
Esta fábrica foi testemunho de uma época na história na cidade de Moçâmedes, hoje Namibe, e dada a sua situação geográfica em local privilegiado, junto à marginal, corre o risco de desaparecer. E tanto mais quanto o sentido histórico da vida das cidades começa a ser tragado pelos interesses do capital. Esperemos que tal não aconteça e que as autoridades de hoje e de amanhã saibam enquadrá-la em futuros projectos que venham a ser concebidos para aquela zona. Ela faz parte da memória da cidade e do distrito, hoje província do Namibe, e poderia ser transformada num interessante e apelativo "Museu do Mar"!
Pesquisa e texto de MNJardim
Créditos de Imagem:
Fotos de ICCT (7)
foto livro de P. Salvador (1).
Alguma bibliog consultada:
Indústria de Pesca e seus deriivados do Distrito de Mossâmedes, 1921-22, relatório de um inquérito de Afonso José Vilela, 1923.
Portugal em Africa: revista scientifica, Volume 5 1898.
Respeitem este blog e o trabalho de pesquisa da sua autora. Se retirarem algo daqui não se esqueçam de citar a proveniencia da informação. MariaNJardim
BGC N.88 - vol VIII. 1932, pg 407. Agência Geral das Colónias
Através da leitura do mesmo Boletim das Colónias, na parte que interessa, ficámos a saber que esta fábrica, em 1932, se denominava "Fábrica Africana" e que o sector de legumes e conservas de frutos se encontrava ainda em fase de apetrechamento, estando empenhado neste projecto o Dr. Torres Garcia, administrador da "Companhia de Mossâmedes". O Ministro das Colónias visitou também a Empresa Fabril de Conservas de Peixe, propriedade de Manuel Costa Santos, situada um pouco mais a sul.
Há notícia de que poente da Fábrica Africana ficava, em tempos recuados, uma fábrica ligada à indústria piscatória, pertencente a Costa & Pestana. Esta acabaria na falência devido a toda uma situação gerada à volta do produto que chegou ao destino em péssimas condições e não foi pago pelos compradores.
Ainda sobre esta Fábrica, sabe-se que, instalada em edifício propositadamente construido para esse fim, esta fábrica encontrava-se na altura dividida em dois corpos, um dos quais comunicava directamente com a praia, e foi destinado de início a enlatados dos legumes cultivados nos vales dos rios “Bero” e “Giraul” ( ou seja, provenientes das muito badaladas “Hortas de Moçâmedes”), e também a enlatados de carne de vaca e de porco, e de peixe em salmouras e escabeche, ou mesmo algumas semi-conservas de charcutaria, conforme consta do apontamento histórico «Pescas em Portugal-Ultramar», de António Martins Mendes (Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa), citando a obra do Dr. Carlos Carneiro, então Director dos Serviços Veterinários de Moçâmedes. No livro Memórias de Angra do Negro- Moçâmedes, de António A. M. Cristão encontrei o nome do 1º colono que e instalou numa fazenda na margem dt. do rio Bero, de nome Serafim Nunes de Figueiredo, accionista da Companhia de Moçâmedes, proprietária da fazenda. Não sei se tem alguma relação com o 1º proprietário da Fábrica Africana, de apelido Figueiredo. Também há ref. à " Figueiredo & Almeida Limitada" que possuia em Mossâmedes, em tempos mais recuados, uma casa filial que negociava peixe com algarvios em troca géneros europeus:AQUI
Como se pode ver pela duas fotos acima, no topo da fachada de cada unidade que integra o edifício , por cima das janelas da Fábrica, encontrava-se escrito os produtos enlatados que ali se produziam: conservas de carnes salgadas, conservas em azeite (de atum, sarrajão, cavala, merma), conservas de fruta, conservas de escabeche, peixe fumado, etc. Também se podia ver o símbolo da Fábrica: uma águia.
Há indicações que na década de 20 e 30 se exportava para o mercado italiano e para os Congos-Belga e Francês e o Gabão produtos de alta qualidade que competiam com os de outras origens por serem mais baratos, situação que levou ao surgimento de novas conserveiras.
Para uma informação mais pormenorizada, transcrevemos a seguir uma passagem de um interessante apontamento histórico de Antonio Martins Mendes da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, subordinada ao tema «Pescas em Portugal - Ultramar», onde o autor nos relata algumas passagens de um importante relatório do Dr. Carlos Carneiro, então Director dos Serviços Veterinários de Moçâmedes, que aborda o estado da Industria de Conservas: **
«... Estava-se em 1931, quando foi publicado o seu primeiro relatório de serviço (Carneiro, 1931). Nesse trabalho começa por evocar o ano de 1921, ...
«...No seu importante trabalho o Dr. Carlos Carneiro aborda o estado da Industria de Conservas. Ficamos a saber que a construção da primeira fabrica fora iniciada em Moçâmedes no ano de 1915 e estava destinada aos legumes cultivados nos vales dos rios “Bero” e “Giraul” (as célebres “Hortas de Moçâmedes”), carne de vaca ou de porco e de peixe em salmouras e escabeche ou mesmo algumas semi-conservas de charcutaria. Preparavam também óleos de pescado que, depois de várias análises e melhoramento da técnica de fabrico, tinham colocação fácil nos mercados britânicos. A fábrica obedecia às exigências da época mas a I Grande-Guerra iria causar grandes dificuldades. A chaparia para o fabrico das embalagens, que era importada e litografada em Lisboa, faltou e a fábrica foi obrigada a fechar. A indústria viria a reanimar-se a partir de 1923, preparando conservas de atum, sarrajão, cavala, mermo, principalmente destinadas ao mercado italiano que tudo absorvia, mas exportava-se também para os Congos- Belga e Francês e o Gabão. Os produtos exportados eram de alta qualidade e rivalizavam com os de outras origens por serem mais baratos. Por isso fundaram-se outras conserveiras. » (...) «...Como sub-produtos do pescado fabricava-se: óleo e farinha de peixe, mas utilizando métodos absolutamente primitivos ou arcaicos.
Encontram-se também referências desta fábrica como sendo propriedade da "Companhia do Sul de Angola", tendo Josino da Costa como arrendatário, e sendo. Olimpio Aquino o gerente. Nos anos 1950 esta fábrica era designada "Sociedade Oceânica do Sul" (SOS) e com esta denominação permaneceu até à independência de Angola. Encontra-se uma referência no livro de Paulo Salvador "Era uma vez...Angola "a um indivíduo de nome Santana como tendo sido proprietário da referida Fábrica (?).
A Fábrica possuia uma frota pesqueira que tratava das capturas para a laboração, quer para o sector conserveiro, quer para o sector de salga e seca, e farinação. Para a produção das conservas de peixe iam especiamente os tunídeos: atum, albacora, sarrajão, etc. Para a salga e seca iam essenciamente os peixes de escama, tais como corvina, taco-taco, tico-tico, merma, cachucho, carapau, etc. Para farinação iam as tainhas, sardinha, cavala, carapau, etc. As tainhas pelo seu alto teor de gordura possibilitavam umalto rendimento na produção de óleo de peixe.
O peixe era transportado para o interior da fábrica através de «vagonetas» sobre linha férrea, que ali faziam a sua entrada, em linha recta, onde era descarregado para ser escalado e cozido em grandes caldeirões. Em seguida vinha a fase do enlatamento. Há notícia de que na década de 1940 ainda nesta Fábrica trabalhavam senhoras recrutadas a partir de Olhão para trabalhar no sector de enlatamento das conservas, sector que mais tarde passou a ser ocupado por pessoal africano feminino como aqui podemos ver (enlatadeiras).
Sabemos que na década de 1960, e após um período aureo de grande produção como Sociedade Oceânica do Sul (SOS), esta fábrica deixou pura e simplesmente de produzir e, vendida a Produtos de Angola Lda (PRODUANG) cujos sócios eram Gaspar Gonçalo Madeira e seu filho, Ildeberto Serra Madeira, acabou por se transformar num entreposto para exportação de peixe congelado para Moçambique. Esta situação mantinha-se em 1975,
Esta fábrica foi testemunho de uma época na história na cidade de Moçâmedes, hoje Namibe, e dada a sua situação geográfica em local privilegiado, junto à marginal, corre o risco de desaparecer. E tanto mais quanto o sentido histórico da vida das cidades começa a ser tragado pelos interesses do capital. Esperemos que tal não aconteça e que as autoridades de hoje e de amanhã saibam enquadrá-la em futuros projectos que venham a ser concebidos para aquela zona. Ela faz parte da memória da cidade e do distrito, hoje província do Namibe, e poderia ser transformada num interessante e apelativo "Museu do Mar"!
Pesquisa e texto de MNJardim
Créditos de Imagem:
Fotos de ICCT (7)
foto livro de P. Salvador (1).
Alguma bibliog consultada:
Indústria de Pesca e seus deriivados do Distrito de Mossâmedes, 1921-22, relatório de um inquérito de Afonso José Vilela, 1923.
Portugal em Africa: revista scientifica, Volume 5 1898.
Respeitem este blog e o trabalho de pesquisa da sua autora. Se retirarem algo daqui não se esqueçam de citar a proveniencia da informação. MariaNJardim